sexta-feira, 21 de março de 2008

RELACIONAMENTOS, NOSSAS OPÇÕES E SENTIMENTOS.



“As pessoas que confio e que realmente me amam não me conhecem inteiramente a ponto de julgar ou medir a forma de me tratar e conduzir a amizade ou o relacionamento”.

Isso é uma verdade em nosso pensamento. É um fato que todo relacionamento pessoal, afetivo, humano, dói. Assim como também nos faz amadurecer, aperfeiçoar-nos; ensinam-nos a amar os outros, a tornar-nos mais compreensivos, mais solidários...; ou seja, mais humanos entre os homens; isso num sentido lato de nossa raça.

O ser humano é de tal forma, assumidamente humano, que nunca, definitivamente nunca, dias, semanas e meses de Internet poderão substituir quinze minutos apenas de um bom papo num botequim qualquer, de uma esquina qualquer, descansando os olhos numas árvores de verdade e protegendo-se, sem muito cuidado, de uns raios de sol de verdade. Estar juntos é muito importante, e, muitas vezes até tocar complementa o verdadeiro encontro, quando não puderem ir mais além e transformar o encontro numa intensidade mais intima, tornando mais prazeroso e cheio de lembranças o contato de dois seres.

Porém, o homem virtual nunca experimentou quanto tempo é necessário para criar um verdadeiro relacionamento: quantas horas passadas juntos, quantos minutos pensando nos problemas dos outros, quantas noites de sono mal dormido, quantos encontros e desencontros... Tudo isso faz sofrer, mas, porque sofremos é que podemos ter certeza de que amamos alguém. Se não amássemos, não sofreríamos com as vicissitudes da vida alheia. O homem virtual não tem tempo para amar. Pior, o homem virtual tem medo de sofrer e, por isso, não encontra tempo para amar. E, por isso, renuncia a todo e qualquer contato humano: prefere um bicho virtual, um amigo virtual, um relacionamento virtual, uma vida virtual.

Desde bem pequenos os seres humanos têm a necessidade de cuidados por parte de outrem. Durante o período de formação da personalidade existem algumas circunstâncias fundamentais a serem desenvolvidas. O vínculo afetivo é um elemento primordial nesta categoria. Ele é básico. Do latim, vinculum: atadura, laço, aquilo que une.


Muitos obstáculos nas relações humanas estão ligados a esta precariedade de vínculo. Aqueles que estão juntos ou se atraem não conseguem perceber este tipo de deficiência em seu relacionamento. Focaliza os problemas em outras questões, ou ainda, prefere nem tocar no assunto. Há casos em que ignora a possibilidade de lançar mão de uma atitude mais reveladora, ou, até mesmo de se recorrer à psicoterapia. E, existem situações em que a resistência impera. Fato comum é dizer que não se precisa de tratamento algum, pois que as dificuldades são de outra ordem. Todavia, perde-se a chance de resolver na causa os efeitos de uma convivência difícil ou da assunção de uma atitude mais real diante de suas opções e capacidade de amar.


Dialogar, e, entenda-se bem, conversar com o coração aberto, oferece uma primeira abertura para se compreender a vida dos dois envolvidos. Dar o primeiro passo pode modificar aquilo que já era considerado algo inevitável, como um afastamento, uma separação, uma atitude agressiva ou até mesmo irônica a fim de evitar um fato consumado da necessidade de um existir para o outro. Empreender esta tarefa não é simples. Requer coragem e vontade para mudar. Aceitar os problemas e lutar para transformar o prejudicial em saudável. Há uma necessidade de crescimento por parte das pessoas envolvidas. O grau de maturidade determinará o quanto se quer conviver bem. Ambas as partes devem estar dispostas e comprometidas em participar deste processo, apoiando-se.

Nietzsche, grande filósofo alemão do século XIX, escreveu que “a maior parte da filosofia foi inventada para acomodar nossos sentimentos às circunstâncias adversas, mas tanto as circunstâncias adversas como nossos pensamentos são efêmeros”, deduzindo, então, que os sentimentos não são. O amor é um desses sentimentos que devem ser tratados pela filosofia, principalmente porque ele parece transcender a realidade.


Existem ainda relações amorosas claudicantes, onde a pessoa que ama não deseja apenas o outro, mas deseja também o desejo do outro, o sentimento do outro e tudo o que possa estar ocorrendo na intimidade psíquica do outro. Diante da impossibilidade de nos apossarmos do sentimento alheio. A pessoa que ama sofre, pois, o outro, pode não estar sentindo aquilo que se deseja que sinta, e, pode não estar pensando justamente aquilo que se deseja que se pense.


O comportamento amoroso sofre também influências da sociedade de consumo, como se vê no excesso de comercialização do amor romântico. Usa-se do amor para vender tudo; de pasta de dentes a jóias, de seguros de vida a cerveja. Não se produzem obras de cinema e novela onde os romances não sejam exaustivamente explorados. Como se os nossos sentimentos fosse um tubo de um produto que já vem pronto para ser usado.


Assim sendo, o ambiente cultural de nossos dias motiva pessoas para o sexo. A motivação sexual representa a vontade de comportar-se sexualmente conforme o modelo cultural e implica na "autorização" social para a iniciativa, para a receptividade ou para as duas coisas. Portanto, depois da motivação sexual, a vontade de aproximar-se dessa ou daquela pessoa com intenções sexuais, de eleger fulano(a) ou sicrano(a) para o sexo, a vontade de tomar iniciativa ou aceitar a iniciativa dessa outra pessoa é comandada pelo estímulo sexual. Como dissemos acima, o ambiente motiva e a outra pessoa estimula, o incesto é desmotivado, a pessoa agressiva ou nada asséptica é desestimulante.

Organicamente ou fisiologicamente, dois sistemas neuronais parecem implicados na escolha e determinação da preferência por um parceiro específico. O sistema mediado pela dopamina, o dopaminérgico córtico-estriatal, por um lado, e o sistema de neuropeptídeos transmissores por outro. Por isso usamos a expressão a química do relacionamento ou do amor.


A harmonia com tudo o que é proporcional e condizente com o todo lhe sacia a fome de estética e beleza. A convivência pacífica e prazerosa com os outros nos realiza como pessoa, ser social e comunicativo. Mas, infelizmente, neste campo encontramos tantas frustrações e aberrações pela corrupção dos homens. A vida do ser humano – não podemos esquecer esse fato – se desenrola no âmbito das emoções, dos sentimentos, das “paixões”. São formas de vitalidade de nossa existência ou amortecimentos da mesma: alegria, tristeza, paz, desânimo, inveja, medo, ira, otimismo e tantos mais. Avançamos ou regredimos ao embate dessas emoções. A pessoa de vida regrada e feliz é a que se deixa conduzir pelos sentimentos positivos e conformes ao supremo ideal da vida: viver em plena abertura para com nossos valores espirituais e sentimentos e aqueles com quem relacionamos.


Este novo relacionamento que propomos, sem medida comum com o convencional, porém, sem desrespeitar a nossa essência pessoal e sócio-cultural, e tanto mais humano, quando menos adora o homem em sua essência de raça; mas, respeita realmente e efetivamente a dignidade humana e dá direito às exigências integrais da pessoa, nós o concebemos como que orientado para uma realização social-temporal desta atenção evangélica ao próprio ser de que aproximamos, a qual não deve existir somente na ordem espiritual, mas incarnar-se, e também para o ideal de uma comunidade fraterna.


Este ensaio não podia ser exaustivo; Françoise Dolto, sobre a consciência do corpo, M. Balmary, sobre a sexualidade no mito de Adão e Eva, e outros autores também acrescentam interessantes pistas complementares. Os autores ressaltam oportunamente que a integração sexual, isto é, da personalidade, no relacionamento é “a grande tarefa da vida”. Várias repetições podem ser consideradas como pedagógicas. Foi também ressaltado, minuciosamente, que a sexualidade é um dado natural, mas, respeitar a natureza ”é ambíguo”, elaborado pela cultura e atuado no dia-a-dia por pessoas individuais, em princípio responsáveis.

Enfim, queremos encerrar observando que:

“No relacionamento sempre existe um intervalo entre os sentimentos e procedimentos. Distintos e talvez necessários. Temos sempre que distinguir esta diferença e digeri-la de forma sensata e táctil”.


Araxá – Minas Gerais – Brasil, 29 de outubro de 2007.

Wilson Costa e Silva

Advogado - Humanista



Um comentário:

Iara De Dupont disse...

Muito interessante o blog! Se puder me visite, http://sindromemm.blogspot.com

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