DESAFIO INTELECTUAL NA POLÍTICA É ROMPER O DOGMATISMO E A INTOLERÂNCIA.
Nossos intelectuais estão apartados da política ou aderiram à intolerância ideológica; é preciso repensar seriamente o BRASIL na nova ordem mundial
Seja com a recidiva de DONALD TRUMP na Casa Branca, ou, a emergência da Nova Rota da Seda de XI JINPING, sem falar em VLADIMIR PUTIN, no Kremlin, e BENJAMIN NETANYAHU, em Jerusalém, autoritarismo hegemoniza a economia e a política mundial e a ‘DEMOCRACIA’ no BRASIL corre novos riscos.
Nossos intelectuais, porém, estão apartados da política ou aderiram à intolerância ideológica; pouco se faz para repensar seriamente o BRASIL na nova ordem mundial e oferecer um rumo às elites empresarial e política.
As certezas ideológicas carregam o perigo da intolerância, critica MARK LILLA. O papel do intelectual não é apenas criar e propagar ideias, mas também assumir a responsabilidade por seus impactos. “O intelectual prudente equilibra idealismo e pragmatismo; o imprudente, se entrega a utopias sem considerar os custos humanos”, compara.
No seu livro “A MENTE IMPRUDENTE” (Record), o sociólogo MARK LILLA, da COLUMBIA UNIVERSITY (EUA), tenta entender o papel dos intelectuais na política a partir da trajetória de alguns dos mais importantes pensadores do SÉCULO XX. Nele, critica o “teólogo político secular”, aqueles intelectuais que substituíram a fé religiosa por uma crença quase messiânica em projetos políticos radicais.
Em
quase todos os momentos importantes da história do BRASIL,
alguns intelectuais se destacaram pelo esforço de produzir uma síntese da
realidade do país e inspiraram as suas respectivas gerações a levarem adiante
um projeto de nação.
Não
foi pouca coisa, num país no qual a primeira universidade foi criada apenas em 1920,
a UNIVERSIDADE
DO RIO DE JANEIRO (com a união da Escola
Politécnica à Escola de Medicina
e à Faculdade
de Direito), pela necessidade de conceder o título de doutor ‘honoris
causa’ ao rei ALBERTO I
da BÉLGICA.
Fazem
parte dessa constelação, entre outros, SÉRGIO BUARQUE
DE HOLANDA (Raízes do Brasil –1936),
com seu estudo sobre a formação do caráter nacional; GILBERTO
FREYRE (Casa-Grande & Senzala
–1933);
CAIO
PRADO JÚNIOR (Formação do Brasil
Contemporâneo -1942); CELSO FURTADO
(Formação
Econômica do Brasil –1959); RAYMUNDO
FAORO (Os Donos do Poder -1958);
e NELSON
WERNECK SODRÉ (História da
Burguesia Brasileira – 1964).
Esses
autores são revisitados quase como um dever de casa, seja como suporte para
novas análises seja para a revisão de suas teses. Entretanto, hoje, são raros
os exemplos de esforço de novas sínteses sobre o Brasil.
Talvez o mais recente e importante seja “HISTÓRIA DA RIQUEZA NO
BRASIL: CINCO SÉCULOS DE PESSOAS, COSTUMES E GOVERNOS (ESTAÇÃO BRASIL)”,
de JORGE
CALDEIRA, que repensa teses consagradas e reconstrói a
interpretação de nossa economia colonial, do SEGUNDO
IMPÉRIO,
da REPÚBLICA
VELHA
e da ERA
VARGAS.
A grande maioria dos ensaios e teses acadêmicas, que se multiplicam, fragmenta a compreensão da realidade brasileira, num momento em que o país carece de uma elite política, empresarial e intelectual coesa e capaz de liderar, em bases democráticas, um novo ciclo histórico de desenvolvimento. O fantasma da modernização autoritária está à nossa espreita, como no ESTADO NOVO e no REGIME MILITAR, num momento perigoso da política mundial.
Em
2016,
em Paris,
‘LILLA’
revisitou sua própria obra e escreveu um posfácio no qual contextualiza o atual
ambiente intelectual. Segundo ele, com o fim da ‘GUERRA FRIA’,
o radicalismo foi substituído por uma espécie de “DOGMA
BRANDO”, com princípios liberais básicos como o caráter
sagrado do indivíduo, a prioridade da liberdade e a desconfiança em relação à
autoridade pública”.
Isso
é politicamente democrático, mas carece de consciência das fraquezas da
democracia e da maneira como pode causar hostilidade e ressentimento.
O
“DOGMA
BRANDO”
se tornou um caldo de cultura para a tirania. Não leva em consideração as instituições nem a
relação entre o individual e o coletivo, o chamado bem comum.
Sua simplicidade é antipolítica e o anti-intelectual,
o que explica o fato de conquistar muitos seguidores: fundamentalistas do “ESTADO
MÍNIMO”
e anarquistas de esquerda, libertários absolutistas e evangelistas neoliberais,
todos politicamente radicais.
Suas
diferenças são insignificantes, têm em comum o preconceito em relação ao outro.
O “DOGMA
BRANDO”
inspira ignorância e falta de empatia. E o autoengano em relação a isso tira os
intelectuais do caminho.
https://www.em.com.br/colunistas/luiz-carlos-azedo/2025/06/7167641-desafio-intelectual-na-politica-e-romper-o-dogmatismo-e-a-intolerancia.html