*RODRIGO
NUNES
A nova extrema direita logrou
explorar tanto o rechaço ao “POLITICAMENTE
CORRETO” quanto os “PÂNICOS MORAIS” característicos
do “CONSERVADORISMO TRADICIONAL”, e
posicionar-se como a voz dos desejos “ANTISSISTÊMICOS” ao mesmo
tempo em que associava a esquerda —que, verdade seja
dita, pouco fez para se ajudar— ao establishment, a uma cultura “UNCOOL” e ultrapassada, ao controle de
pensamento.
Além das crenças extremas, a
diferença da “ALT-RIGHT” para o
conservadorismo “mainstream” está em seu
domínio instintivo da comunicação em tempos de REDES SOCIAIS, “clickbait” e economia
da atenção. Antes e melhor que muitos, no entanto, foi a “ALT-RIGHT” quem descobriu as vantagens de assumir
a posição de uma das figuras centrais da cultura contemporânea: o “TROLL”.
A chave para entender a
estratégia da “ALT-RIGHT” e, por
extensão, do “BOLSONARISMO”. A dupla
comunicação, e o fato de que é o “TROLL” quem decide
quando está brincando e quando está falando sério, são à base da técnica e característica
da “ALT-RIGHT” de
introduzir ideias “POLÊMICAS” e “CONTROVERSAS” no debate público de maneira irônica,
humorística ou com certo distanciamento crítico, mantendo sempre a dúvida sobre
o quanto ali é brincadeira ou para valer.
O jogo da “ALT-RIGHT” também é muito eficiente em explorar a
indignação de seus adversários para seus próprios fins. Primeiro
porque, na economia das REDES,
engajamento é tudo, não importa se bom ou ruim.
Cada “TROLLAGEM” bem-sucedida produz uma onda de
ultraje que leva milhares de pessoas a divulgar o material “POLÊMICO” e sua fonte, aumentando sua circulação, visibilidade e viabilidade
financeira ou eleitoral (um antídoto
para isso é comentar sem citar nomes e compartilhar apenas privadamente).
O risco,
óbvio, é que haja tantos absurdos circulando no “DEBATE PÚBLICO” que a caricatura dos mesmos não só já
não cause repulsa, mas acabe angariando apoios. Em todo caso, esta discussão
foi antecipada nos últimos dias pelo “POLÊMICO” vídeo de ROBERTO
ALVIM, o
defenestrado SECRETÁRIO DA CULTURA.
Sejamos
claros. O secretário não caiu por “ser”
NAZISTA; é perfeitamente provável que o
nazismo seja para ele uma máscara como qualquer outra. Também não caiu por
citar ou se inspirar no nazismo; outros membros do governo fizeram isso e
saíram prestigiados. Tampouco caiu porque foi pego; a citação era uma “TROLLAGEM” e, como tal, estava lá para despertar
risos nos amigos e fúria nos adversários.
ROBERTO ALVIM caiu porque
lhe faltou a arte de seus colegas de governo para testar os limites sem perder
a mão.
É bom que quem faça isso em nome
das reformas, da ECONOMIA, do CARREIRISMO ou da EXPEDIÊNCIA POLÍTICA tenha bem claro que está contribuindo
para trazer o extremismo cada vez mais para o centro da arena. Qualquer hora
dessas, pode ser tarde demais para pôr as barbas de molho.
*RODRIGO
NUNES é professor
de filosofia moderna e contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (PUC-Rio) e autor de "Organisation of the Organisationless:
Collective Action after Networks". Seu novo livro, "Beyond the
Horizontal - Rethinking the Question of Organisation", sairá em breve pela
editora britânica Verso.
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