quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

SER O NÃO SER: “ALT RIGHT” – THATS THE QUESTION?!


*RODRIGO NUNES

A nova extrema direita logrou explorar tanto o rechaço ao “POLITICAMENTE CORRETO” quanto os “PÂNICOS MORAIS” característicos do “CONSERVADORISMO TRADICIONAL”, e posicionar-se como a voz dos desejos “ANTISSISTÊMICOS” ao mesmo tempo em que associava a esquerda —que, verdade seja dita, pouco fez para se ajudarao establishment, a uma cultura “UNCOOL” e ultrapassada, ao controle de pensamento.

Além das crenças extremas, a diferença da ALT-RIGHT para o conservadorismo “mainstream” está em seu domínio instintivo da comunicação em tempos de REDES SOCIAIS, “clickbait” e economia da atenção. Antes e melhor que muitos, no entanto, foi a ALT-RIGHT quem descobriu as vantagens de assumir a posição de uma das figuras centrais da cultura contemporânea: o “TROLL”.

A chave para entender a estratégia da ALT-RIGHT e, por extensão, do “BOLSONARISMO”. A dupla comunicação, e o fato de que é o “TROLL” quem decide quando está brincando e quando está falando sério, são à base da técnica e característica da “ALT-RIGHT” de introduzir ideias “POLÊMICAS” e “CONTROVERSAS” no debate público de maneira irônica, humorística ou com certo distanciamento crítico, mantendo sempre a dúvida sobre o quanto ali é brincadeira ou para valer.



O jogo da ALT-RIGHT também é muito eficiente em explorar a indignação de seus adversários para seus próprios fins. Primeiro porque, na economia das REDES, engajamento é tudo, não importa se bom ou ruim.

Cada “TROLLAGEM” bem-sucedida produz uma onda de ultraje que leva milhares de pessoas a divulgar o material “POLÊMICO” e sua fonte, aumentando sua circulação, visibilidade e viabilidade financeira ou eleitoral (um antídoto para isso é comentar sem citar nomes e compartilhar apenas privadamente).

O risco, óbvio, é que haja tantos absurdos circulando no “DEBATE PÚBLICO” que a caricatura dos mesmos não só já não cause repulsa, mas acabe angariando apoios. Em todo caso, esta discussão foi antecipada nos últimos dias pelo “POLÊMICO” vídeo de ROBERTO ALVIM, o defenestrado SECRETÁRIO DA CULTURA.



Sejamos claros. O secretário não caiu por “serNAZISTA; é perfeitamente provável que o nazismo seja para ele uma máscara como qualquer outra. Também não caiu por citar ou se inspirar no nazismo; outros membros do governo fizeram isso e saíram prestigiados. Tampouco caiu porque foi pego; a citação era uma “TROLLAGEM” e, como tal, estava lá para despertar risos nos amigos e fúria nos adversários.

ROBERTO ALVIM caiu porque lhe faltou a arte de seus colegas de governo para testar os limites sem perder a mão.

É bom que quem faça isso em nome das reformas, da ECONOMIA, do CARREIRISMO ou da EXPEDIÊNCIA POLÍTICA tenha bem claro que está contribuindo para trazer o extremismo cada vez mais para o centro da arena. Qualquer hora dessas, pode ser tarde demais para pôr as barbas de molho.

*RODRIGO NUNES é professor de filosofia moderna e contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e autor de "Organisation of the Organisationless: Collective Action after Networks". Seu novo livro, "Beyond the Horizontal - Rethinking the Question of Organisation", sairá em breve pela editora britânica Verso.


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