Quando
ainda morava no EGITO,
no começo dos 1970,
o botânico e geneticista NAGIB
NASSAR conheceu um livro que decidiria seu destino: "GEOGRAFIA
DA FOME", de pernambucano JOSUÉ
DE CASTRO, um dos mais importantes estudos sobre a insegurança
alimentar no BRASIL.
Em
1974,
NASSAR
era professor na UNIVERSIDADE DO CAIRO
e soube que havia um acordo científico entre BRASIL
e EGITO.
Viu aí oportunidade de estudar a cultura da mandioca na região em que ela se
originou.
O
livro o influenciou a vir para o país e dedicar toda a sua carreira a pesquisas
em torno dos melhoramentos da mandioca, com
o propósito de usar o alimento como recurso no combate à fome.
O
pesquisador foi agora condecorado com o “KUWAIT
INTERNATIONAL PRIZE OF ENVIRONMENT”, que será entregue
em uma cerimônia em DEZEMBRO/2014.
Junto com o prêmio, NASSAR
também receberá US$ 100 mil (cerca de R$ 250 mil).
O dinheiro já tem destino certo: será usado para financiar pesquisas com
mandioca.
Ele
diz que o dinheiro será doado à UNB (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA),
na qual foi professor
por quase 30 anos. Os rendimentos
financiarão alunos de doutorado e pesquisas sobre a mandioca.
NASSAR
espera ser um exemplo que incentive esse tipo de doação no BRASIL.
"Se isso acontecer, o impacto dessa minha pequena contribuição
será muito maior".
"Essa é uma atitude típica de quem tem paixão pelo que faz", diz JAIME
SANTANA, decano de pesquisa e pós-graduação da UNB.
Santana acrescenta: “... que a falta de uma cultura de
filantropia e os entraves burocráticos dentro das universidades são os grandes
empecilhos para que esse tipo de prática torne-se mais comum no país”.
Logo
que chegou ao país, como professor visitante da USP,
NASSAR
fez uma longa viagem pelo NORDESTE DO BRASIL
coletando e catalogando espécies silvestres de mandioca.
Na
época, o OESTE da
ÁFRICA
era assolado pelo “mosaico africano da mandioca”, vírus que estava destruindo
plantações da raiz e causando fome em vários países.
Cruzando
espécies silvestres do BRASIL
com a mandioca cultivada, o
pesquisador produziu um híbrido resistente à praga, cujas sementes tiveram um
enorme sucesso nos países assolado pela doença.
"Essa foi minha primeira contribuição científica de
importância", diz NASSAR.
Nassar
depois buscou criar híbridos de mandioca mais nutritivos. "Ninguém
imaginava que espécies silvestres da mandioca possuíssem altos níveis de
proteína. Consegui mostrar que isso poderia ser transferido para a mandioca
comum através de cruzamento." O resultado foi uma
espécie de mandioca com o dobro de proteína.
Crítico
ferrenho dos transgênicos, pois, teme os efeitos desse tipo de alimento no
longo prazo. "Nos transgênicos, os genes são
transferidos de vírus ou bactérias para a planta, para a raça humana e o nosso
ambiente com impactos imprevisíveis."
Apesar
da APOSENTADORIA
COMPULSÓRIA aos 70 anos,
NASSAR
ainda vai todas as manhãs para a UNB
e orienta alunos. No tempo livre, dedica-se aos livros e aos filmes. O
cientista é dono de uma coleção de quase mil DVDs.
Após
quase 50
anos de
dedicação à ciência, NASSAR
considera-se realizado. "A maior realização para um
cientista como eu é produzir uma obra inovadora, com impacto científico
importante e grandes consequências sociais."
By:
FOLHA DE SÃO PAULO – Caderno de Ciências
– 08/07/2014
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