AFINAL, QUEM SÃO OS “BLACK BLOCS”?
Os problemas apontados por eles são
reais e atormentam de fato o povo, mas a resposta dada por eles é que é
inaceitável.
Por Mario Guerreiro – Doutor
em filosofia pela UFRJ
In “OPINIÃO E NOTICIA” - 21 de outubro de 2013
Nas infindáveis
marchas começadas em junho de 2013,
aconteceu algo “nunca antes visto neste país” – só para usar uma das
frases feitas preferidas do LULA
– um grupo de mascarados dispostos a depredar tudo, destoando dos demais
realizadores de protestos pacíficos.
Eles apareceram
principalmente no RIO
e em SÃO
PAULO, embora também estivessem presentes, em menor
número, em outros grandes centros urbanos. Receberam o nome de “BLACK
BLOCS” (blocos de preto),
porque se vestiam de preto e usavam máscaras pretas.
Alguns desses blocos
portavam camisas e cartazes em que se podiam ver um ‘A’
branco dentro de um círculo branco, símbolo inequívoco do ANARQUISMO.
Mas seriam eles
defensores de uma ideologia anarquista ou se limitavam a usar traje e
símbolo no sentido popular em que “ANARQUISMO”
é sinônimo de “baderna”, de “liberou geral”?
Lembro-me que na
baderna estudantil em PARIS,
em maio de 1968, ocorreu algo
semelhante a uma carnavalização, com slogans tais como: “É
proibido proibir”, “O imaginário no poder”, “Devemos desejar o
impossível”, etc.
O que pretendiam os
estudantes parisienses era, na realidade, “épater le
bourgeois” (chocar o burguês),
mas não consta ter havido muitos atos de vandalismo com depredações de
patrimônio público e privado.
A prática de atos
dessa natureza assinala uma importante diferença entre os “BLACK
BLOCS”
de
junho
de 2013
no RIO,
e, em SÃO PAULO, por um lado, e os
estudantes revoltosos em PARIS
em
maio de 1968, por outro.
Como os “BLACK
BLOCS” não se limitaram a depredar patrimônio
somente privado, permitem levantar a
suspeita de que não eram grupos de ativistas comunistas,
mas sim portadores de uma revolta generalizada, incluindo partidos políticos e
o próprio establishment.
Em síntese seu lema
era: “SOMOS
CONTRA TUDO ISSO QUE AÍ ESTÁ”, para usar uma das
frases feitas de LEONEL BRIZOLA
em sua campanha para presidente. Ou então aquele surrado refrão
latino-americano: “HAY GOBIERNO, SOY CONTRA!”
Não vai aqui nenhuma
sugestão de que o ex-governador do RIO GRANDE DO SUL
e do RIO
DE JANEIRO fosse um anarquista.
Ficou bastante
evidente que ele não era contra o ESTADO
– visto como um mal desnecessário – mas sim como um bem necessário enquanto Estado
totalitário de esquerda. DITADURA
só é coisa ruim quando não é de esquerda…
Mas a pergunta já
feita continua sem resposta: os “BLACK BLOCS”
devem ser vistos como um bando de baderneiros, uma
espécie de “REBELDES SEM CAUSA”,
“CONTRA
TUDO QUE AÍ ESTÁ” ou devemos
encarar a baderna não como um fim em si mesmo, porém como uma maneira agressiva
de expressar uma mensagem política?!
Alguns membros da classe
artística, velhos participantes da esquerda
festiva, bem como alguns membros da mídia, entenderam
estar em jogo essa última alternativa.
Chegaram mesmo a
fazer vista grossa para o prejuízo causado para os cofres públicos e
para o patrimônio privado, e passaram a enaltecer os “BLACK
BLOCS” como veículos expressando a forte indignação da
opinião pública diante do GOVERNO
e dos PARTIDOS POLÍTICOS
como um todo.
Creio que
há, de fato, bons motivos para essa indignação, mas também creio que ela se
limita a uma pequena parcela da opinião pública esclarecida.
A maioria está
satisfeita com o governo e com nossos 32 partidos políticos entendidos como
expressão de um “PLURALISMO
DEMOCRÁTICO”, não como um número excessivo
prejudicando a qualidade da representação política.
Mas ainda que
houvesse um grande número de cidadãos bastante insatisfeitos com o atual estado
de coisas no país, a maneira democrática de expressar
insatisfação não é depredando patrimônio público nem privado.
O
VERDADEIRO PROTESTO ACONTECE NAS URNAS
Indignação,
insatisfação, forte desejo de mudanças, etc. se expressam de maneira adequada
nas urnas!
A grande vantagem da DEMOCRACIA
é a rotatividade do PODER.
Os eleitores podem até acabar acertando mediante reiterados ensaios e erros
Assumindo uma posição
simpática em relação aos “BLACK BLOCS”,
dizem os professores ESTHER SOLANO
e RAFAEL
ALCADIPANI:
“Das conversas que tivemos [com membros do BLACK BLOCS, com membros da mídia e policiais] e das observações que realizamos, ficou
claro que para esses jovens a violência simbólica funciona como uma forma de se
expressar socialmente, um elemento provocador que tem o intuito de captar a
atenção de um
ESTADO percebido como totalmente ausente”.
[SOLANO e ALCADIPANI:
‘BLACK BLOC’ visa chamar atenção de um Estado ausente. Especial para a FOLHA,
republicado em REDE LIBERAL em 16/10/2013].
Discordamos
veementemente! Cuspir na cara do outro é, sem dúvida, uma forma de expressão,
porém uma ofensa jamais admissível como forma legal e legítima de expressão em
povos civilizados.
Do mesmo modo,
depredar patrimônio alheio e atirar pedras na polícia são formas de violência
que nada têm de “simbólicas”:
são infrações previstas em leis
e devem ser punidas exemplarmente.
Se a finalidade dos “BLACK
BLOCS” fosse fazer veementes protestos políticos – como
de fato era a de outros grupos – poderiam verbalizar sua indignação, portar faixas
e cartazes, etc.
Mas a maior prova de
que não queriam ser identificados em seus atos de vandalismo é o uso
das máscaras fora dos festejos de Momo.
A CONSTITUIÇÃO
garante a todo cidadão fazer qualquer tipo de protesto pacífico, pois protestos
fazem parte do direito de liberdade de expressão.
Todavia, no artigo em
que ela fala do mesmo direito, acrescenta uma cláusula restritiva: “É
VEDADO O ANONIMATO”. Ou seja: quem protesta tem que
assumir seu ato e mostrar a sua cara!
Ora, se a finalidade
fosse “chamar
a atenção de um ESTADO
percebido
como ausente”, a forma de chamar essa atenção seria fazer
reivindicações objetivas e apontar as causas reais da indignação.
O ESTADO
pode ser considerado “ausente” no sentido em que se
mostra omisso diante de graves problemas que atormentam a nação, mas não é totalmente
insensível ao clamor das ruas.
Prova disso é que o CONGRESSO
se apressou em votar aquele PEC
(PROPOSTA
E EMENDA À CONSTITUIÇÃO) que retirava do MINISTÉRIO PÚBLICO a atribuição constitucional de realizar
investigações. E, para a grande decepção dos corruptos que enlameiam
nosso país, rejeitou o referido PEC!
Até mesmo a “PRESIDENTA”
propôs, atabalhoadamente, uma reforma política como “panacea
universalis”, isto é: como santo remédio para a cura de todas
as nossas mazelas,
Quando seria
prioritária uma REFORMA ADMINISTRATIVA
destinada a remover as gorduras do ESTADO
e, em seguida, uma REFORMA TRIBUTÁRIA
para o grande benéfico de um generoso contribuinte sem um retribuinte à altura.
Ou seja,
para usar uma sentença gasta, mas não sem validade: Pagamos impostos da SUÉCIA, mas recebemos como
contrapartida serviços da BOLÍVIA!
Mas SOLANO
e ALCADIPANI
prosseguem mostrando-se simpáticos a esses marginais dos “BLACK
BLOCS”:
“Os jovens
que utilizam a tática “BLACK BLOC”
dizem
usar uma violência teatral que chama a atenção para o que eles caracterizam
como o verdadeiro vandalismo”.
Tal vandalismo
seria uma ordem das coisas que engole o cidadão numa tirania contínua. Exemplos
de frases que retratam isso são:
- “A causa do “BLACK
BLOCS” agir é o descaso público”.
- “As pessoas estão sendo torturadas psicologicamente
pelo cotidiano”.
- “Não somos vândalos, vândalo
é o ESTADO
que deixa as pessoas horas esperando na fila do SUS”.
Se há algum mérito
nesse artigo desses professores da Unifesp
e da FGV-EASP
este
mesmo consiste em eles terem ouvido as falas dos “BLACK
BLOCS” expressando sua maneira de pensar e agir.
NOMES
AOS BOIS.
Por sua vez,
estas não são inteiramente desprovidas de mérito. Os problemas apontados por
eles são reais e atormentam de fato o povo, mas a
resposta dada por eles é que é inaceitável.
Eles negam ser vândalos,
mas que outro nome daria a um bando de marginais que não só dilapidam patrimônio
público e privado como também jogam pedras na polícia? Arruaceiros?
Baderneiros?
Eles não só negam ser
vândalos como
também qualificam o ESTADO
de vândalo.
Fariam corretas atribuições, caso qualificassem o mesmo de “omisso”, “perdulário”, “indiferente
aos graves problemas de segurança, educação e saúde do povo”.
Quem assalta
bancos para dar dinheiro aos pobres, e, ou, para arrecadar fundos para a
revolução – tanto faz um fim como o outro – é assaltante!
Quem faz depredações e joga pedras na
polícia é vândalo. E ponto final!
Vamos dar os
nomes certos aos bois, e, não nos deixemos levar por esse pífio
expediente retórico que consiste em atribuir
incorretamente aos outros uma expressão desqualificante atribuída corretamente
a nós.
Uma vez perguntaram a
GANDHI
o que ele achava da “LEI DE TALIÃO: OLHO
POR OLHO, DENTE POR DENTE”. GANDHI
respondeu: “Se a pusermos em prática, acabaremos
todos cegos e desdentados”.
Pensando como pensava
o grande
líder pacifista, isto não impediu de fazer marchas e liderar
vigorosos protestos. E acabou conseguindo a independência da ÍNDIA
sem disparar um único tiro, nem promover depredações de patrimônio alheio.
Infelizmente, a
maioria dos brasileiros ainda não adquiriu maturidade política, rejubila-se com bravatas juvenis como se fossem estas que
pudessem melhorar nosso lamentável estado de coisas.
Um exemplo banal do
cotidiano: se o orelhão não funciona, depredam o
orelhão.
Ora bolas! Ruim com ele, pior sem ele!
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